26 de janeiro de 2009

Alma de Pássaro


"Acordo todas as manhãs com este zumbido e a certeza de que não vais voltar. Cansada de me convencer que, apesar e acima do teu índividualismo estava a tal inevitabilidade a que nos submetemos e chamamos amor, pensei que, com todo o amor que sentia por ti, te iria suavizar e de alguma forma fazer parte do teu equilibrio tornando-me subtilmente indispensável. Helás.
Nunca pensei enganar-me tanto.
Mas só agora percebo que o teu amor por mim não foi uma inevitabilidade,mas uma escolha. Alguém que te chamou a atenção e que, um dia, decidiste atravessar com a intuição certeira de um aninal selvagem que procura refúgio temporário, quando está cansado. Sei que não vinhas a fugir de nada, nem á procura de coisa nenhuma. Mas acho que, quando eras pequeno, te arrancaram uma parte de ti e desde de então ficaste incompleto e perdes-te, quem sabe talvês para sempre, a capacidade de adormecer nos braços de alguém sem pensar no perigo de ficar na armadilha do carinho para todo o sempre."

Margarida Rebelo Pinto in Alma de Pássaro






Este é sem dúvida o meu livro preferido, aquele que já li vezes sem conta. Não que o ache um grande livro, mas porque inexplicavelmente me encontro nele. Não sou a "Inês" nunca fui casada, nem tive uma filha, mas acho que quando o encontrei numa prateleira da FNAC, e li exactamente este bocado que aqui deixo, tinha comigo uma espécie de "Miguel". Por isso cheguei ao cúmulo de decorar frases, e porque há coisas doces de mais para serem esquecidas contínuo a lê-lo.
Certamente não poderei chamar de amor àquilo que sentiste por mim, mas gosto de pensar que embora esse sentimento tenha ficado a baixo dessa linha, terá sem dúvida ultrapassado em muito a da amizade. Gosto de pensar que essa coisa que nos une, vai durar para sempre. Vamos ser velhinhos, olhar nos olhos um do outro e perceber tudo, sem uma única palavra. Gosto de pensar que aquilo que nos une é das coisas mais preciosas que possuo. Gosto de pensar assim porque de outra forma não encontro explicação para teres escolhido atravessar-me com "a intuição certeira de um animal selvagem".
Acho que hoje já recuperas-te essa parte, que um dia te arrancaram, já és capaz de "adormecer nos braços de alguém", hoje quem está incompleta sou eu. Arrancaste-me uma parte de mim, mas depois de tanto tempo certamente já não sabes onde a deixas-te, vou ter que esperar até que alguém decida atravessar-me com a mesma intensidade que o fizeste e me devolva a parte que me arrancas-te.
E prontos ultimamente tem me dado para isto, para pensar nisto e até para ler mais uma vez Alma de Pássaro.

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